O Blog Acompanhe tudo o que acontece na Above Below.

Internet: especulação e investimento

Feature image

Artigo publicado na edição de 03/07/2001 na Revista Briefing.

Quando há tempos exortou os portugueses a darem mais importância à Internet, António Guterres pautou o tema como assunto de Estado. Mais do que estar a falar quase que em uníssono com Tony Blair, o nosso Primeiro Ministro estava atento aos indicadores económicos que de um lado apontavam a Internet como o caminho do futuro, do outro traduziam o atraso europeu em relação aos E.U.A. e, em particular à alarmante ausência da Europa do Sul no Mundo online. O que talvez não estivesse à espera é que os portugueses lhe respondessem com uma adesão tão acachapante: os últimos resultados da 1ª vaga de 2001 do Bareme Internet revelam que já somos um milhão e seiscentos mil conectados. Uma fatia considerável dos cerca de seis milhões de consumidores portugueses activos. 52,4% do universo de inquiridos referem dedicar em média até uma hora em cada acesso à internet. Diversão, obtenção de notícias e formação pessoal são os objectos de interesse principais dos utilizadores habituais, segundo aquele estudo.

O que nos parece ser no mínimo curioso é que, no momento em que os portugueses resolvem abraçar a Internet, os nossos empresários preferem desinvestir neste recurso, e não só, ainda trombeteiam isto aos quatro ventos. O que estamos a ler todos os dias nas secções de Economia são notícias nada animadoras no que tange aos investimentos no mundo digital. Empresários-ícone dão entrevistas a desdenhar o potencial de obtenção de lucro na Internet, quando recentemente alguns deles mais contribuiram para inflacionar exageradamente as expectativas. Mais parece a adesão a uma nova moda. A imprensa especializada não deixa por menos, fazendo também a sua parte. Artigos venenosos dão-nos a saber, tim-tim por tim-tim, quantos foram despedidos aqui ou acolá, ou quantos ainda o vão ser. Por fim, alguns dos evangelizadores de plantão ainda dizem que sempre souberam que a Internet estava apenas no início...

Enfim. Demanda promissora e menos investimento em oferta. Dá até para questionar se estamos diante de mais um sintoma do descompasso da nossa economia. Vocação para funcionar em contra-ciclo? E o que mais surpreende neste episódio é que desta vez o governo até está a fazer a sua parte, por exemplo, criando programas como o Rede Ciência, Tecnologia e Sociedade, que está a concretizar a ligação das escolas à Internet. Estão sendo criadas, paulatinamente, as condições para a massificação do uso das tecnologias de informação em Portugal. Será que os nossos empresários do sector privado estão atentos para isto? Há que capitalizar este investimento. Há que esperar um pouco mais: não desistam, vamos embora para o segundo round. Vamos investir no melhoramento dos nosso sites. Menos portais generalistas e mais sites de informação segmentada. Que tal começarmos a construir sites que não "crasham" o computador dos utilizadores e, já agora, menos egoístas: que sejam compatíveis com o Macintosh? Ou sites de informação que não nos deixam 10 minutos à espera? Alguns sites portugueses dão a impressão de que foram feitos apenas para o webmaster, com a sua maravilhosa conexão, ter acesso. Alguém já se perguntou se isto não é uma das causas do insucesso de alguns sites?

Tudo leva a crer que o retorno do investimento em internet será possível, em Portugal, a muito curto prazo . Temos é que oferecer conteúdos de qualidade, um serviço melhor, sites de acesso mais fluido. E tudo isto só é possível com menos especulação e mais investimento. 

Tweets
    © 2015 Above Below Comunicação e Marketing Lda. © 2011 Nova all rights reserved.